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segunda-feira, 25 de maio de 2020

O futuro que não queremos: um pequeno dossiê do cenário ambiental


Muitas mudanças vêm ocorrendo ao mesmo tempo em várias partes do mundo, e isso traz diversas consequências para nós. Como diz Ban Ki-Moon, Ex-Secretário Geral da ONU, “nosso pé pisa fundo no acelerador e nós estamos indo na direção de um abismo”. Diversos fatos comprovam que tudo que é essencial à vida está acabando ou se tornando nocivo. 

O clima está ficando cada vez mais quente
O Clima no planeta, por exemplo, está ficando cada vez mais quente. Acompanhando diversos noticiários sobre o clima, se vê que isso é bem assustador. Temperaturas altas estão se tornando cada mais comuns. Desde quando começaram as medições, em 1850
aos dias atuais, observa-se um aumento contínuo nas temperaturas médias globais. Segundo a Organização Mundial de Meteorologia, OMM, 14 dos 15 anos mais quentes foram registrados neste século. Só nessa década, o ano de 2014 havia sido considerado pela ONU o ano mais quente da história. Até 2020, considera-se os anos de 2019 e 2016, respectivamente, os mais quentes. E mais, segundo a Noaa, 2019 foi o 43o ano consecutivo em que as temperaturas ficaram acima da média. Também foi o ano em que os oceanos acumularam mais calor em toda a série histórica.  Agora imagine: como estará o clima no planeta daqui alguns anos? Previsões são de aumento entre 3 a 5 graus nas médias globais até 2100.  

Em 2012s a NASA divulgou um vídeo ilustrando o aumento global da temperatura 1880 até o ano 2011.  É possível observar nitidamente que a medidas que os anos passam, o planeta fica mais quente. 


Cadê as florestas?
Algo também muito preocupante é o que vem acontecendo com as florestas. A cobertura florestal está desaparecendo em todos os continentes. De acordo com o Almanaque Socioambiental do Instituto Socioambiental (ISA) a Europa (sem a Rússia) possuía 7% das florestas do planeta e hoje tem apenas 0,1%. A África possuía quase 11% e agora tem 3,4%. A Ásia já teve quase um quarto de florestas mundiais (23,6%), e agora possuí 5,5%. Apenas a América do Sul, que detinha 18,2%, graças aos remanescentes no Brasil, agora possuí 41,4%. No entanto, ainda é preciso fortalecer a proteção das florestas. O desmatamento é considerado um dos maiores problemas ambientais do Brasil. A Amazônia, nosso maior bioma, levou milhões de anos para se formar, e, de acordo com Donato Nobre, no relatório O Futuro Climático da Amazônia, em apenas 50 anos já foram desmatados 720 mil km², ou seja, quase 20% da floresta já foram destruídas. O cerrado, segundo maior bioma do país, possuí um terço da biodiversidade mundial, e berço das águas do Brasil, já foi reduzido à metade. Segundo a SOS Mata Atlântica, a Mata Atlântica, floresta mais rica em biodiversidade, possui apenas 12,4% de sua cobertura original.

O fato é que nossas florestas estão sendo convertidas em pastos, soja, madeira e carvão. Sofre pressão de grandes obras civis, como portos, estradas, hidrelétricas, e de empreendimentos de grande impacto ambiental, como mineração, siderurgia, metalurgia, tornando-se um verdadeiro canteiro de obras. Posturas presidenciais contrárias a preservação infelizmente acabam se materializando, e mudanças na legislação enfraquecem a política, e contribuem ainda mais para o consumo de florestas. Em 2020 o ritmo continua aceleradíssimo, já foi registrado vários recordes de desmatamento da Amazônia. Só até abril a marca ja chega a de 1.703 km², uma área maior que a cidade de São Paulo (1.521 km²). 

Cadê os animais?
O que está acontecendo com os animais na Terra? Em nosso planeta já ocorreram cinco grandes extinções em massa, cientistas estimam que 99% de todas as espécies que já habitaram a Terra foram extintas. Até então, essas extinções ocorreram por processos naturais. O que sobrou de nossa biodiversidade continua em processo de extinção, mas, hoje é causada principalmente pela ação do homem. Para se ter uma ideia, em média, a cada hora, 3 espécies são extintas, um ritmo mil vezes mais rápido que os processos naturais.  O Relatório Planeta Vivo 2014, produzido pelo WWF-Brasil, mostra que de 1970 pra cá, o número de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes diminuir mais da metade (52%). Em 2014 saíram as listas brasileiras de espécies ameaçadas de extinção, divulgadas pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), mostrando em primeiro momento, uma boa notícia: 170 animais deixaram de ser ameaçados. Em contrapartida, se entre 2003 e 2004 havia 627 espécies ameaçadas, hoje constam 1.173. O número de animais ameaçados de extinção quase dobrou! Muitos deles espécies recém descobertas - quanto maior o número de espécies avaliadas maior o número de espécies inclusas da lista de ameaçadas.

Cadê a água, o saneamento e o tratamento de lixo?
A água ou a falta de acesso a água potável é uma das maiores preocupações mundiais. Segunda a ONU estima-se que um bilhão de pessoas carece de acesso a um abastecimento de água suficiente, e 2,5 bilhões de pessoas não têm acesso a serviços de saneamento básico, como banheiros ou latrinas. Isso é uma terrível violação aos direitos humanos e a dignidade da pessoa humana. Sem contar que, ainda de acordo com a ONU, todos os anos, morrem mais pessoas das consequências de água contaminada do que de todas as formas de violência, incluindo a guerra. E diariamente, uma média de cinco mil crianças morre de doenças evitáveis relacionadas à água e saneamento.

O Brasil detém uma das maiores reservas de água doce do mundo, concentrando cerca de 20% de todo recurso hídrico disponível. Segundo o IBGE, 82,85% dos brasileiros tenham acesso a água potável. Em porcentagem parece ótimo, mas isso representa cerca 35 milhões de pessoas sem um dos direitos mais básicos – o de acesso água potável. E menos da metade da população, cerca de 48,6%, é atendida por serviços de tratamento de esgoto. Esse índice é vergonhoso para o país que possui uma das maiores economias do mundo.

Segundo a ONU, a humanidade produz mais de 2 bilhões de toneladas de lixo por ano! No Brasil essa pilha é gigantesca. Conforme dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais - ABRELPE, em 2018, só nas residenciais e vias públicas, foram gerados 79 milhões de toneladas de lixo por ano. 18% desse montante vão para os lixões e 24% em aterros controlados (ambas formas inadequadas). E 20 mil toneladas de lixo por dia sequer são coletadas, jogadas em terrenos baldios ou descartadas clandestinamente.  Apenas 3% do total é reciclado. Ainda segundo ABRELPE, 750 pessoas morreram devido à gestão precária de resíduos sólidos em lixões só no primeiro semestre de 2016.

Ar: Respirar mata!
O ar é um elemento essencial a vida. Não podemos ficar mais que alguns minutos sem respirar. No entanto, estamos envenenando tanto a atmosfera que o simples ato de inspirar e expirar pode ser fatal. A poluição do ar é hoje um dos maiores problemas ambientais da humanidade. Para se ter uma ideia do quão grave é este problema, segundo um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 7 milhões de pessoas morrem todo ano devido a doenças causadas pela poluição do ar. Outro dado da OMS é ainda mais chocante: no mundo todo cerca de 12,6 milhões de pessoas morrem, por ano, devido a condições ambientais insalubres, como poluição do ar, da água e do solo.

Vale ainda dizer, que atmosfera continua sendo entupida de poluentes. O dióxido de carbono (CO2), por exemplo, é o poluente que, desde 1972, mais preocupa a ONU, a comunidade científica e os chefes de governo. Embora diversas conferências internacionais e acordo globais como Protocolo de Kyoto, na prática ainda são poucos eficazes. Apenas assistiram o nível de emissões de CO2 bater recordes e ultrapassar a incrível marca de 400 partes por milhão (ppm) na atmosfera. Para compreender melhor, quando começou a ser registrado, em 1750, o CO2 correspondia a 280ppm, até 2005 o registro era de 379ppm, em 2014 alcançou 400ppm, que era o limite aceitável. E infelizmente deste patamar não sairá mais. Mesmo em plena pandemia de 2020, dados do Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA), mostra que em abril, a concentração média de CO2 chegou a 416,21 ppm.

Falta recurso naturais: o planeta está em sobrecarga
Vimos até aqui diversas consequências do processo de degradação da qualidade ambiental. Como se não bastasse, estamos exaurindo os recursos naturais disponíveis. Desde 2000, todo ano, a Global Footprint Network (GFN), organização internacional pela sustentabilidade, parceira da Rede WWF faz um estudo monitorando a pegada ecológica de todas as cidades do mundo. Esta avaliação consiste em calcular a demanda humana por recursos naturais, com a capacidade que o planeta tem de se regenerar, ou seja, de repor estes recursos. Esta ferramenta permite dizer se estamos dentro ou fora de um consumo ideal de recursos naturais. O que o estudo aponta é que estamos consumindo cada vez mais e os recursos se esgotando cada vez mais cedo. Em 2000 e 2001 os recursos disponíveis se esgotaram no mês de outubro, entre 2002 e 2009 em setembro, de 2010 a 2018 em agosto. Em 2019, em 29 de julho.

Em outras palavras, a humanidade está utilizando a natureza de forma 1,7 vez mais rápida do que os ecossistemas do nosso planeta podem se regenerar. Isso é como se usássemos 1,7 planeta Terra. Se considerarmos o consumo dos EUA, precisaríamos de 5 planetas, da Austrália 4, Coreia do Sul 3,5, Rússia 3,3, Alemanha 3. Para sustentar o estilo de vida dos brasileiros precisaríamos de 1,8. A questão é essa, só temos um planeta.

Alimento, fome e desperdício
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) 30% de toda a comida produzida no mundo vai parar no lixo. Anualmente, 1,3 bilhão de toneladas de comida é desperdiçada ou se perde ao longo das cadeias produtivas de alimentos. Em contrapartida 820 milhões de pessoas passam fome no muno (ONU).

Uma das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) é até 2030, reduzir pela metade o desperdício de alimentos e acabar com a fome e garantir o acesso de todas as pessoas a alimentos seguros, nutritivos e suficientes durante todo o ano.

Injustiça: quem luta pelo planeta está sendo assassinado
Dada a situação de nosso planeta, ter pessoas lutando por esta causa é uma necessidade. O meio ambiente realmente precisa de defensores, alguém para estar na linha de frente para dar um abasta nisso. Mas se você é ambientalista corre séria ameaça de morte, principalmente no Brasil. Quem não se lembra do caso de Chico Mendes, assassinado em 1988, e de Dorothy Stang, morta com seis tiros a queima roupa, em 2005, entre outras grandes lideranças. Assim como eles, centenas de pessoas perdem a vida todo por defender algum tipo de causa ambiental. Segundo o levantamento da ONG britânica Global Witness, entre 2002 e 2013, pelo menos 908 ativistas foram assassinadas em 35 países, sendo o Brasil o país mais perigoso do mundo para ativistas ambientais, ranqueando a lista com 448 ativistas foram assassinados no país nesse período. Essa história se repete a cada ano. O país ainda embaçava a lista de assassinatos até 2018, com 57 com 57. Em 2019, uma queda, o país ficou em 4º com “apenas” 30 assassinatos.

Outro estudo, da ONG Human Rights Watch aponta que nem 5% dos casos de assassinatos de ambientalistas no Brasil foram julgados. Apenas 14 dos 300 casos acabaram indo para os tribunais.

Conclusão
Este artigo apenas compila diversos dados concretos e estudos esparsos sobre meio ambiente. O intuito é de alertar, evidenciar que o modo como a gente está vivendo no planeta é totalmente insustentável. Precisamos urgentemente aceitar isso. A preocupação ambiental precisa ser a atitude do século. As ameaças a nossa sobrevivência é real, e precisa ficar claro que não são apenas para daqui cem anos, elas já estão acontecendo em várias partes do mundo todo. Como visto, as temperaturas estão subindo em nível recorde em todo o globo terrestre, florestas do mundo todo sendo dizimadas, espécies entrando em extinção num ritmo mil vezes mais rápido que o normal, bilhões de pessoas sem acesso a água e esgoto, milhões de pessoas morrendo com a poluição do ar, da água e do solo, centenas com contatos direto com lixo, milhões com fome, enquanto 1/3 dos alimentos são desperdiçados, recursos naturais se esgotando cada vez mais rápido, centenas de assassinatos de ambientalistas em todo o mundo. O planeta dá várias sinais de que está doente. Não por acaso estamos rumo a sexta extinção em massa, a única que também inclui a raça humana.  Entramos num processo de auto extinção. Será este o futuro que queremos?

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